Bitcoin o dinheiro da Internet. Projetado para funcionar como um sistema global e resistente à censura para o intercâmbio de valor através da rede, não foi o primeiro projeto dessa natureza. De fato, entre os cypherpunks, um grupo de ativistas que trabalham no desenvolvimento tecnológico para preservação da privacidade, já Wei Dai tinha concebido um sistema semelhante: B-Money.
Um elemento revelador nesse sentido, que fala da importância do B-Money, é o fato de que o próprio Satoshi Nakamoto decidiu acrescentar uma menção direta a este projeto no Livro Branco de Bitcoin, um privilégio que Dai compartilha com Adam Black, criador de Hashcash. As semelhanças são significativas.
O QUE É O B-MONEY?
Do Dai não se tem muita informação, é um cypherpunk. O desenvolvedor criou – e ainda mantem- Crypto ++: uma biblioteca da linguagem de programação C++ para algoritmos criptográficos. Além, é um usuário ativo de fóruns como LessWrong, onde fala de inteligência artificial, filosofia, politica, entre outros temas.
Impulsionado pelas ideias do cripto-anarquismo de Tim May e sendo um prolixo informático, Dai se deu a tarefa de construir um sistema de intercâmbio de valor extremadamente semelhante ao que seria Bitcoin, embora, no seu caso nunca foi implementado.
B-Money foi ideado por Dai como um meio para fazer mas eficiente a interação e cooperação entre comunidades, fornecendo uma ferramenta que funcione como meio de intercâmbio, assim como um mecanismo que impõe o cumprimento dos contratos que se subscrevem entre os membros da mesma. O desenvolvedor publicou seu B-Money em 1998, mais de uma década antes do lançamento de Bitcoin.
Uma comunidade é definida pelo nível de cooperação de seus participantes e uma cooperação eficiente requer um meio de intercâmbio (dinheiro) e uma forma de reforçar os contratos. Tradicionalmente estes serviços têm sido previstos pelo governo ou por instituições financiadas pelo governo, e não só pelas entidades legais.
Wei Dai
O objetivo de B-Money é um protocolo para permitir que ditos serviços sejam previstos por entidades não rastreáveis, eliminando assim a necessidade de depender de autoridades centrais ou governos. Para isso, Dai elaborou dois caminhos possíveis.
Convém mencionar que ambas as soluções de Dai, as transações e o funcionamento da rede (com a solução de problemas matemáticos associados ás chaves públicas dos participantes) permitiam a geração de novas moedas, seja através de um valor fixo (associado ao trabalho computacional realizado para resolver os algoritmos) ou um valor leiloável (estabelecido pela competição entre os usuários)
Na primeira versão de B-Money, em vez de criar uma autoridade central que controle o registro de todas as transações, todos os participantes da rede mantem uma copia desses registros. Cada vez que se realiza uma transação através de B-Money, todos os participantes atualizam seus livros de registros.
Estes registros seriam chaves publicas com montantes adjuntos e em nenhum caso, nomes reais dos proprietários dessas chaves. Para realizar as transações, os usuários tinham que assiná-las, garantindo o gasto de suas moedas em favor de outro usuário. A ideia desse sistema é descentralizar as transações, evitando que sejam censuradas conservando a privacidade dos usuários. Não obstante, Dai o considerou inviável, devido á enorme quantidade de registros que poderiam gerar-se, bem como a necessidade de sua sincronia no registro.
Em uma proposta subsequente, não todos os usuários mantêm cópia do registro. Para isso, além dos usuários regulares, a Dai criou alguns “servidores”, que seriam os encarregados de manter o respaldo atualizado das transações. As transações se comprovavam ao comparar os dados de cada servidor, de maneira aleatória, com outro servidor da rede.
Neste caso, cada servidor deveria depositar uma quantidade de fundos, isto para garantir o bom cumprimento de sua função.
Cada Participante deve verificar que os saldo de suas próprias contas sejam corretos e que a soma dos saldos das contas não seja maior que a quantidade total de dinheiro criado. Isto evita que os servidores, inclusive numa conspiração total, ampliem a oferta de dinheiro de forma permanente e sem custo.
Wei Dai
Neste caso, a solução de Dai propõe um sistema de Provas de Participação (PoS).
RELAÇÃO COM BITCOIN
Como temos dito, o B-Money não foi lançado. No entanto, a primeira proposta do sistema proposto por Dai tem grandes semelhanças com o tratamento dos registros das transações que mais tarde seria essencial para o funcionamento descentralizado de Bitcoin.
Dai tem sido assinado como um dos possíveis candidatos para ser identificado como Nakamoto. No entanto, o mesmo o tem desestimado. “Meu entendimento é que o criador de Bitcoin, que leva o nome de Satoshi Nakamoto, nem sequer leu meu artigo antes de reinventar a ideia. Ele soube disso depois e me acreditou em seu artigo. Assim que minha conexão com o projeto é bastante limitada”, asseverou num fórum.
Dai foi um dos primeiros em receber o Livro Branco de Bitcoin. De fato, Nakamoto lhe contatou diretamente, devido à semelhança de B-Money com sua ideia. Em agosto de 2008, meses antes de sua publicação, Nakamoto enviou o rascunho de seu sistema, que, até então, ele ainda não tinha nome de Bitcoin, senão “Dinheiro eletrônico sem um terceiro de confiança” (Electronic Cash Without a Trusted Third Party).
Eu estava muito interessado em ler tua página de b-money. Estou me preparando para lançar um documento que expanda suas ideias num sistema de trabalho completo. Adam Back (hashcash.org) notou as semelhanças e apontou-me para o seu site.
Satoshi Nakamoto
O documento de Bitcoin enviado por Nakamoto para a Dai ainda não continha o nome Bitcoin. Fonte: gwern.net
Além disso, a relação é encontrada em elementos técnicos semelhantes entre os projetos, já que a Dai não participou no desenvolvimento do Bitcoin.
A implementação de chaves públicas, a utilização de provas de trabalho para a emissão de moedas e confirmação das transações; o registro descentralizado e distribuído entre todos os usuários da rede são elementos importantes no momento de entender a relação de B-Money com Bitcoin.
O design de Nakamoto melhorou de maneira significativa a proposta da Dai. Ao adicionar um sistema mais eficiente para o consenso da rede, reformular a política monetária e a criação de novos bitcoins, tal como prevenir o duplo gasto de qualquer BTC na rede. Nakamoto aprofundou o funcionamento de B-Money, criando uma solução completamente inovadora.